A displasia coxofemoral em cães (DCF) se trata de uma alteração da conexão entre a cabeça do fêmur e o acetábulo (estrutura que liga a pélvis ao fêmur).
Sua transmissão é hereditária, recessiva, intermitente e poligênica, ou seja, pode ter vários genes que contribuem para essa alteração. Em associação à hereditariedade, a nutrição, fatores biomecânicos e ambiente que o animal se encontra podem piorar a condição da displasia. O ambiente a qual me refiro pode ser, por exemplo, o tipo de piso, quanto mais liso o piso, maiores são as chances de o cão escorregar, sofrer um acidente, uma luxação, agravando, assim, o problema.
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Sinais clínicos:
Os sinais clínicos da displasia coxofemoral variam muito, podendo apresentar claudicação uni ou bilateral, (ou seja, de uma ou das duas pernas) dorso arqueado, peso corporal deslocado em direção aos membros anteriores, com rotação lateral desses membros e andar bamboleante, como se fosse cair a qualquer momento.
Geralmente os sinais aparecem dos 4 aos 6 meses de idade, inicialmente como uma manqueira discreta que pode ir se desenvolvendo até que o animal perca a capacidade de se locomover.
Os sintomas são muito variados, mas o que se deve estar atento é com a dificuldade em caminhar, crepitações (estalos) nas articulações (juntas) e sinais de dor que vagarosamente passam a ser constantes. O animal começa mancando de alguma das patas traseiras, com dor ao andar, atrofia muscular, mobilidade alterada (muita ou pouca), choro pela dor, arrasta-se pelo chão, e, dependendo da gravidade do caso, como já oi dito, perde os movimentos das patas traseiras.
Existem cães que são apenas portadores da displasia, não apresentam dor, estes apenas são diagnosticados através do exame radiográfico, com isso, as manifestações clínicas nem sempre são compatíveis com os achados radiológicos. Estudos estatísticos mostram que 70% dos animais radiograficamente afetados não apresentam sintomas e somente 30% necessitam de algum tipo de tratamento.
Nos últimos anos, as associações de criadores das diferentes raças caninas têm demonstrado maior preocupação com a DCF e, da mesma forma, os proprietários estão mais bem informados quanto aos problemas que esta afecção pode causar. Assim, é fundamental que os médicos veterinários estejam cada vez mais envolvidos com exames radiográficos para a displasia, sabendo interpretá-los corretamente. A qualidade radiográfica vai depender das radiografias devidamente identificadas e as que obedecerem aos critérios de posicionamento do animal, cujo padrão de qualidade ofereça condições de visualização da micro trabeculação óssea da cabeça e colo femorais e ainda definição precisa das margens da articulação coxofemoral, especialmente do bordo acetabular dorsal, além do tamanho do filme que deve incluir toda a pelve e as articulações fêmoro-tíbio-patelares do paciente.
A doença afeta muitas raças de cães sendo mais comum nas de grande porte, tais como Pastor Alemão, Rotweiller, Labrador, Weimaraner, Golden Retriever, Fila Brasileiro, São Bernardo, dentre outras. Mas também em menor quantidade de casos, a DCF pode atingir cães que tenham menores taxas de crescimento, ou seja, o rápido crescimento do esqueleto que não foi acompanhado devidamente pelo crescimento da musculatura pélvica. Não há preferência quanto a machos ou fêmeas, os atingindo na mesma freqüência.
Diagnóstico:
Para a realização do diagnóstico, utiliza-se o exame Radiográfico (Raios-X), sendo este um método seguro diante de alguns cuidados.
As articulações coxofemorais de cães que eventualmente desenvolvem displasia são estrutural e funcionalmente normais ao nascimento. O diagnóstico radiográfico pode ser feito, inicialmente, entre seis e nove meses de idade, dependendo da gravidade do caso. Porém a indicação mais segura é que seja feita com 12 meses de idade em cães pequenos e 18 meses para cães de grande porte, devido justamente ao processo de crescimento dos cães, especialmente antes do fechamento das placas epifisárias (são locais onde existe um espaço para que a cartilagem do filhote possa crescer e se calcificar formando osso), podendo, antes dessa idade, dar um resultado incorreto (falso negativo).
De acordo com as Normas do Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária, o diagnóstico definitivo só pode ser tido com 24 meses de vida do animal.
Para o melhor resultado do exame, o cão deverá estar em jejum por 8 horas. Ele receberá um sedativo para relaxar a musculatura, objetivando-se obter o melhor posicionamento técnico para a melhor imagem possível. Não é recomendado para gestantes, pois seus filhotes podem ser prejudicados e nem para cadelas que pariram há menos de 30 dias, pois sua ossatura ainda não voltou ao normal.
Na compra do cão das raças predispostas a terem a DCF, deve ser verificado os laudos de pais e avós e algumas gerações anteriores do animal que tenham resultado negativo para a displasia.
Porém, devido à genética, mesmo com laudos de pais e avós e os avanços feitos, existe uma probabilidade pequena de que o filhote adquirido possa ser portador da DCF.
Após o exame radiográfico, algumas técnicas auxiliares são utilizadas na avaliação radiográfica, como a técnica de Norberg que se vale de uma escala e de angulações para resultado da DCF mediante classificações que são divididas em 5 categorias de acordo com as características encontradas:
Grau A: Articulações coxofemorais normais: a cabeça femoral e o acetábulo são congruentes. Angulação acetabular, segundo Norberg de, aproximadamente, 105º.
Grau B: Articulações coxofemorais próximas da normalidade: a cabeça femoral e o acetábulo são ligeiramente incongruentes e angulação acetabular, de acordo com Norberg, de, aproximadamente, 105º.
Grau C: Displasia coxofemoral leve: a cabeça femoral e o acetábulo são incongruentes. Angulação acetabular, é de aproximadamente 100º.
Grau D: Displasia coxofemoral moderada: a incongruência entre a cabeça femoral e o acetábulo é evidente, com sinais de subluxação. Angulação acetabular, segundo Norberg, é de aproximadamente 95º.
Grau E: Displasia coxofemoral grave: há evidentes alterações displásicas da articulação coxofemoral, com sinais de luxação ou distinta subluxação. O ângulo de é menor que 90º. Há evidente achatamento da borda acetabular cranial, deformação da cabeça femoral ou outros sinais de osteoartrose.
Tratamento:
O tratamento clínico é baseado na utilização de analgésicos, antiinflamatórios para amenizar a dor do animal, melhorando a capacidade de movimentação, controle de peso do animal, pois a obesidade é um fator que forçam as articulações, atrapalhando o processo de recuperação, fisioterapia (natação, caminhadas), evitar que o animal caminhe em piso liso, acupuntura, gerando bons resultados.
Existe também o tratamento cirúrgico para os casos considerados de maior gravidade, a técnica mais utilizada é a implantação de uma prótese total do quadril, sendo este procedimento é praticado apenas em cães com mais de dois anos, uma vez que os ossos necessitam de estar bem formados para suportarem os implantes. Não só com o objetivo de minimizar a dor, mas também de devolver a funcionalidade à anca e corrigir os erros genéticos.
Outras técnicas cirúrgicas utilizadas também podem ser: osteotomia tripla, em cachorros até aos 12 meses, pode-se recorrer a esta cirurgia, desde que os animais não apresentem artrite; dartroplastia, procedimento mais recente, para cães jovens que não têm as condições necessárias para uma osteotomia tripla ou prótese total da anca; osteotomia da cabeça do fêmur, sendo a excisão da cabeça do fêmur que é um procedimento utilizado em último recurso; colocefalectomia; osteotomia intratocantérica; acetaculoplastia; pectinectomia; denervação da cápsula articular.
Controle:
Evitar obesidade; controle da quantidade de ração e suplementos inadequados ou em excesso para os filhotes, não acelerando seu crescimento inadequadamente, facilitando o surgimento da DCF; exercício para filhotes a partir dos 3 meses de idade de maneira moderada para que possa desenvolver satisfatoriamente a musculatura pélvica e nunca em excesso; o ambiente deve ser favorável ao animal, evitando sempre que ele fique em pisos lisos; filhotes devem ser colocados em chão áspero, para não forçarem a articulação; seleção genética, adquirindo animais de cruzamentos genéticos (pais e avós) que possuam negatividade para DCF.
Considerações:
O que é importante que saibamos é que, independentemente de qual fator que levou o seu cão a um processo de paralisia, em muitos casos a eutanásia não é necessária, pois existem tratamentos eficientes e, em última instância, quando a paralisia está mesmo instalada, existem as cadeirinhas adaptadas aos cães que podem ter uma vida saudável quando se adaptam a elas, assim como fraldas próprias para cães para manter a higiene do animal quando este perdeu o controle nervoso na hora de fazer as necessidades. A questão aqui é muito particular ao proprietário quanto à disponibilidade de tratamento do cão, pois, envolvem questões financeiras, tempo e cuidado de um humano.
É muito importante também que o dono esteja atento ao animal desde o momento de sua aquisição, fazendo uma varredura a partir do atendimento pelo médico veterinário de qualquer problema que o animal ainda não tenha, mas que possa vir a ter, assim como nos casos de Displasia Coxofemoral, ter conhecimento das gerações anteriores do filhote.
Fonte:
COUTO, N. Manual de Medicina Interna de Pequenos Animais. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
ROCHA, F. P. C. S., et al. Displasia Coxofemoral em Cães. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Garça, n.11, 2008
Imagens:
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