A questão do direito dos animais vem sido debatida por anos e a partir dessas pesquisas surgiram documentos para ajudar a avaliar o bem-estar dos animais. Temos o das 5 liberdades dos animais (1979), que garante entre outras coisas, o acesso a alimento e água e em 1994 também surge o modelo dos 5 domínios, é sobre ele que vamos falar.
O modelo dos 5 domínios foi desenvolvido em 1994 por Mellor e Reid e sofreu várias atualizações ao longo do tempo, sendo a última em 2020. É um documento para avaliar o bem-estar animal, incluindo animais em cativeiro e de produção.
Os 5 domínios são:
1- Nutrição: consumo adequado de alimentos nutritivos na quantidade correta. Não basta apenas ter acesso ao alimento e água, como as 5 liberdades dos animais garante, deve haver um cuidado para que o animal não fique obeso, por exemplo
2 – Meio Ambiente: boas condições, com conforto (físico, visual, térmico, auditivo) e segurança. Alguns exemplos: ter uma rotina que misture previsibilidade com novidade, por exemplo, podemos ter uma rotina de passeios e enriquecimento ambiental (os cães gostam de rotina, de saber o que esperar para não se sentirem ansiosos), mas podemos variar os locais do passeio e os tipos de enriquecimento ambiental usados (novidade); ter um lugar e condições para descansar e dormir.
3 – Saúde: cuidados que garantem saúde física. Exemplos: além dos cuidados veterinários, oferecer possibilidade de exercício na medida certa, cachorro cansado nem sempre é cachorro feliz.
4 – Interações Comportamentais (nome atualizado em 2020): com o ambiente, outros animais e com humanos.
5 – Estados Mentais: priorizar conforto, interesse e confiança e evitar experiências negativas. É tudo o que o animal vai sentir (físico ou emocional) com relação aos outros quatro domínios.
Os quatro primeiros domínios influenciam o quinto e nós podemos interferir neles para que o estado mental (o quinto domínio) esteja em boas condições.
O quarto domínio, antes chamado de Comportamento, teve seu nome alterado em 2020 para Interações Comportamentais, pois os animais buscam, de forma consciente, objetivos específicos ao interagir com o ambiente, com outros animais e com os humanos. Antes essa interação com humanos era apenas mencionada, mas agora está bem explícita no documento.
Nosso comportamento tem grande impacto e gera experiências positivas ou negativas nos animais, essas podem ser medidas nos seus comportamentos e até na sua fisiologia, por exemplo: você já ouviu sobre pets que passam mal após algum stress? A forma como agimos afeta o bem-estar dos nossos pets, seja proporcionando experiências negativas ou positivas.
De acordo com o artigo The 2020 Five Domains Model, são pontos negativos: pouco ou nenhum contato com nossos pets, impaciência, agressividade, dominação, crueldade, voz com raiva, ser rude, usar força, foco na punição. Tudo isso pode gerar ansiedade, insegurança, medo, pânico e até dores e inquietação.
Mas o artigo também mostra como podemos influenciar nossos pets para terem experiências positivas: oferecer companhia e sensação de segurança, fornecer alimentos preferidos, contatos táteis (carinho) e/ou reforços de treinamento, quando participamos de atividades rotineiras agradáveis, quando nossa presença é calmante em circunstâncias ameaçadoras e agimos para encerrar períodos de privação, inibição ou dano.
Mesmo que seja nossa vontade, não temos como proteger nossos pets de todas as experiências negativas da vida (doenças, sensações ruins – ex: vacina), mas podemos proporcionar a eles mais experiências positivas do que negativas. Como já falei em outro artigo, segundo a médica veterinária Dra. Cristiane Pizzutto (2020), experimentar mais sensações boas do que ruins é prosperar no ambiente em que se vive. Para isso, devemos conhecer as espécies e seus comportamentos naturais e enxergar sob a ótica do animal para criar condições adequadas e específicas para cada um, Uma das formas de se trabalhar a essência de cada espécie é com o enriquecimento ambiental e permitindo que seu pet expresse seus comportamentos naturais (cães: correr, roer, brincar, cavar, farejar; gatos: arranhar, observar de locais altos, se esconder). Que tal começar?