Conheça essa teoria que dá o que falar!
Se você tem Instagram e segue alguns perfis de gatinhos, já viu a brincadeira de que os gatos vão dominar o mundo, certo? Mas sabia que tem gente que acredita que os cães querem dominar os humanos?!
Isso acontece por causa da “teoria da dominância” e de treinadores que a usam para justificar técnicas de treinamento com aversivos e até uso de força (cutucões, virar de barriga pra cima, chute com calcanhar) que ainda hoje, infelizmente, são divulgadas até mesmo em programas de TV.
A teoria da dominância nasceu dos estudos de um cientista chamado David Mech na década de 70. Ele reuniu lobos de famílias diferentes em cativeiro para observar seu comportamento e viu que alguns lobos se impunham para conseguir o que queriam e outros se submetiam. Os lobos que se impunham foram chamados de alfa.
Mas o problema nesse estudo, reconhecido pelo próprio David Mech e pela comunidade científica, está em que na natureza os lobos de um mesmo grupo não têm esse tipo de comportamento, eles convivem pacificamente e cooperam uns com os outros. As alcateias são conduzidas por um casal que divide as tarefas, os filhos mais velhos ajudam a cuidar dos mais novos e não há disputa como aconteceu no experimento de Mech.
Cães e lobos têm muita semelhança genética, mas seus comportamentos são totalmente diferentes! Lobos são lobos e cães são cães.. não se pode usar uma teoria reconhecidamente falha para justificar certos comportamentos. Os cães fazem certas coisas porque são cães, estão se divertindo e não porque querem nos dominar. Outro ponto que os diferenciam no comportamento tem a ver com a domesticação. Nossa relação com os cães é de parceria e cooperação desde o inicio da domesticação, nunca houve uma relação através de submissão e dominância.
A palavra “dominância” é muito usada de forma errada para descrever comportamentos e até personalidade dos cães: “meu cão faz tal coisa porque é dominante”.
Um estudo da Senior Family Dog Project, da Universidade Eotvos Loránd na Hungria sobre a relação entre traços de personalidade e a percepção de “dominância” pelos tutores observou que o que os tutores descrevem como “dominância” na verdade é assertividade, ou seja, a capacidade de se posicionar e comunicar suas necessidades e limites de forma clara sem agressividade. Por exemplo, um cão que inicia brincadeiras, as interrompe, que mostra que uma interação não é desejada ou que defende um recurso não é dominante e sim assertivo. Sendo assim, o estudo conclui que dominância não é uma característica. Dizer que seu cão é dominante porque ele pula em você não faz sentido. Faz muito mais sentido pensar que os cães fazem comportamentos que foram reforçados: se ele pula em você e ganha atenção, então ele aprende que pulando ele consegue o que quer.
Existe ainda o pensamento de que os cães nos veem como parte de uma “matilha” e que devemos assumir o papel de líder dessa matilha para que eles nos respeitem. Mas isso não acontece… a hierarquia social dos cães é complexa, primeiro que eles não nos veem como parte de uma matilha porque somos de espécies diferentes e segundo, a teoria da dominância (de onde surgiu também o pensamento da “matilha”) é falha, esse modelo não se aplica nem mesmo aos lobos, quem dirá aos cães.
Saber que os cães não têm essa ambição de nos dominar deve mudar a forma como os vemos e também como os ensinamos. Aversivos, agressões e violência nunca foram boas técnicas de ensino, faz sentido querer dominar seu cão com força ou punição?
Você quer que seu cão te “respeite” (na verdade, tenha medo de você) ou que vocês tenham um relacionamento saudável? Isso não quer dizer que os cães podem fazer o que quiserem sem limites, mas que esses serão ensinados de forma positiva.
BRADSHAW, John. Cãosenso. Record, 2012.
Assertive, trainable and older dogs are perceived as more dominant in multi-dog households. Lisa J. Wallis, Ivaylo B. Iotchev, Enikő Kubinyi. Disponível em https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0227253
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