Temos a chance de mudar o curso dessa história de abusos, solidão e privação de liberdade
Ele permite que se aproximem. Desde que com cautela. Atira pedras a esmo com frequência, uma manifestação de frustração e também uma tentativa de estabelecer limites no cativeiro. Sua coluna está mais arqueada e saliente do que deveria. Parece fraco, mas não frágil. Claramente não confia em seus tratadores; e o sentimento é recíproco. As feições cansadas ilustram a história que nós, humanos, escrevemos para ele.
Conheça melhor Tamy
Comecei este segundo parágrafo afirmando que essa era a vida de Tamy, elefante macho asiático de 50 anos, doado ao ex-zoológico de Mendoza, na Argentina, aos 14, por um famoso circo mexicano, onde era obrigado a performar desde os quatro. Apaguei. Não dá para resumir o sofrimento de 40 anos em quatro linhas.
Entretanto, hoje, temos a chance de mudar o curso dessa história de abusos, solidão e privação de liberdade. Ao longo deste ano, o Santuário de Elefantes Brasil – único da América Latina – realizará o resgate de Pocha, Guilhermina e Kenya, três elefantes fêmeas que também vivem em Mendoza, porém separadas de Tamy. Para resgatá-lo, o Santuário precisa construir um habitat para machos asiáticos – esses recintos têm, a princípio, quatro hectares e são delimitados por tubos de aço reciclados, usados na perfuração de petróleo, que aguentam as investidas dos elefantes, mas permitem a livre circulação dos animais no cerrado. Esses espaços evitam que aconteçam desentendimentos entre diferentes populações da espécie.
Uma vez construído, o habitat também proporcionará uma nova vida a mais dois machos asiáticos, cujos resgates já estão em fase de tramitação. De acordo com um levantamento realizado pelo Santuário, em parceria com o Global Sanctuary for Elephants, há ainda 36 elefantes em cativeiro na América do Sul – 21 deles no Brasil.
A doação dos chamados “4 de Mendoza” pelo ex-zoológico – hoje Ecoparque – ao Santuário já está acordada. Em entrevista concedida em setembro de 2020 ao Ecoa, do Portal UOL, Malala Fontán, coordenadora do grupo ativista SinZoo, uma das mais importantes organizações na luta contra o modelo de zoológicos na Argentina, disse que estamos assistindo a um milagre.
“No começo, não éramos amáveis, gritávamos, éramos violentos, mas depois começamos a pedir que as pessoas olhassem os animais nos olhos, sentissem os cheiros do zoológico, de xixi, morte, sujeira, que vissem como os chimpanzés estavam carecas, porque arrancavam seus pelos e comiam seu vômito e cocô. Explicávamos que os animais não têm essas condutas na natureza, que eles estavam sofrendo em cativeiro”, conta Fontán.
Sendo assim, o único impeditivo para a transferência de Tamy é a estrutura para abrigá-lo com segurança e liberdade. Para conseguir arcar com tamanho investimento, o Santuário pede ajuda. Criou uma campanha para arrecadar recursos para a construção e precisa de doações para que todos os resgates planejados para 2021 possam se tornar realidade.
Quem quiser saber mais e puder ajudar, doando ou divulgando, é só acessar vemtamy.elefantesbrasil.org.br.
Leia também: Pela Liberdade de Bambi: a Luta para Transferir a Elefanta de 50 Anos para Santuário
O que você pensa sobre o assunto? Comenta aí!