A paisagem é linda. A água, azulzinha. O golfinho, ainda mais encantador que nos filmes que assistíamos quando éramos crianças.
Você nada com ele, interage e até ganha um beijinho.
A foto fica linda. Você está sorrindo e ele…
Não, ele não está sorrindo. A leve abertura da mandíbula do golfinho, que visualmente nos remete à alegria, nada mais é que um sinal de estresse.
Ao contrário do que muita gente acredita – e do que a indústria do entretenimento com cetáceos dissemina – a crueldade de manter animais selvagens em cativeiro vai muito além das limitações de ambiente às quais são submetidos.
Muitos exemplares são retirados da natureza, em um processo de captura, treinamento e transporte que violenta física e psicologicamente a conduta natural da espécie.
E não pense que a situação é menos pior para quem já nasce no cativeiro. Em 2017, um ex-treinador de um um dolfinarium no Caribe revelou a ativistas e veículos de mídia do segmento que “alguns golfinhos fêmeas impediam seus bebês de respirar, não permitindo que eles fossem à superfície”. O treinador e seus colegas deduziram que “as mães faziam isso porque não queriam que seus bebês vivessem em cativeiro”.
A dedução tem fundamento científico. Como a respiração dos cetáceos é consciente – e não inconsciente como a nossa – a incidência de infanticídios e suicídios em cativeiro é maior do que se imagina.
E não dá nem para julgar. Comportamentos psicóticos, queimaduras de sol e até cegueira, causada pelo excesso de cloro na água, são só algumas das consequências perturbadoras desse tipo de atração.
Na década de 1990, foi possível presenciar tudo isso aqui mesmo, no Brasil, em um parque marinho da cidade de Santos, onde viveu o último golfinho em cativeiro do país.
Em 1991, a Justiça embargou as apresentações do cetáceo com base na primeira lei de proteção animal do país, de número 24.645, de 1934. Flipper – que foi capturado por encomenda do mar de Laguna, em Santa Catarina, e recebeu esse nome em homenagem ao protagonista do seriado americano dos anos 1960 – teria o direito de voltar à liberdade.
Quando a equipe responsável pela readaptação e soltura chegaram ao tanque de 12 metros de largura, a realidade do cativeiro era clara como as águas do Caribe:
“O tanque estava com o filtro de água quebrado. No fundo dele, havia uma crosta de fezes acumuladas, roupas, latas e outros dejetos. Para disfarçar essa sujeira, era usada uma quantidade enorme de cloro. Por conta desse excesso, Flipper praticamente não abria os olhos. Além disso, sua pele estava com queimaduras de sol, por ficar longas horas na superfície do tanque, à espera de companhia”, relembra Richard O’Barry, ex-treinador de golfinhos norte-americano que, na década de 1970, depois do suicídio de um dos animais que adestrava, mudou sua trajetória e passou a readaptar cetáceos cativos à liberdade.
Hoje, quase 30 anos depois, o cenário se repete em diversas partes do mundo, com as centenas de golfinhos mantidos em cativeiro.
Por isso, acredite: pode parecer legal. Mas não é. Nem para eles, nem para você.