O conhecimento em relação ao comportamento e às necessidades dos coelhos é inversamente proporcional à popularidade desses animais – principalmente no período que antecede a Páscoa. A falta de entendimento sobre o quão complexos são fazem com que muitas pessoas tenham a ideia de presentear uma criança com um coelhinho de verdade. E a realidade é que, por conta dessa desinformação, muitos são abandonados logo após a festividade.
Entenda por que coelho não é presente de Páscoa
Segundo a House Rabbit Society, a maior organização de resgate de coelhos dos Estados Unidos, “coelhos são companheiros maravilhosos, mas não são para todos”. Isso porque, de acordo com a própria experiência da organização, a maioria dos candidatos a tutores acredita que são animais que vivem por pouco tempo, não requerem muitos cuidados e podem viver em uma gaiola – o que é um completo equívoco.
Embora não haja dados oficiais de quantos coelhos são abandonados, nem lá, nem aqui, no Brasil, Jennifer McGee, co-gerente da divisão da House Rabbit na Georgia, explica que, geralmente, o abrigo recebe de uma a duas ligações por semana sobre coelhos abandonados; nas seis semanas depois da Páscoa, essa estatística passa de três a quatro ligações por dia.
A médica veterinária Rosangela Gebara, integrante da Comissão Técnica de Bem-estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), relata que o problema, muitas vezes, já começa nas lojas que comercializam os coelhos: “Certos vendedores chegam a colorir o pelo dos animais para atrair o público. Alguns são vendidos ainda imaturos, como se fossem ‘coelhinhos anões’. Assim, após alguns dias, vários deles acabam morrendo por falta de cuidados especiais, por manipulação inadequada e pela ausência da mãe”.
Além disso, coelhos não podem ficar o tempo todo em um ambiente restrito. “A gaiola serve apenas como ponto de descanso ou refúgio quando o animal sentir necessidade. Ele precisa fazer exercício, precisa de espaço para se locomover”, alerta Cristiane Pizzutto, presidente da Comissão.
A também médica veterinária Cristina Maria Pereira Fotim e, como Rosangela e Cristiane, integrante do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), ressalta ainda que, sem espaço para se movimentarem adequadamente, “os coelhos podem apresentar problemas nas articulações, obesidade e desvios de comportamento, como lambeduras que levam a problemas de pele”.
E tem mais: em vida livre, os coelhos são presas de diversos outros animais. Por isso, quando enclausurados, podem desenvolver medo excessivo e até agressividade.
Vale lembrar também que eles têm o hábito de roer, precisam de alimentação apropriada e demandam cuidados veterinários específicos – por serem mais sensíveis e terem uma estrutura óssea mais frágil e delicada, o manuseio, inclusive, é diferente de cães e gatos.
Por fim, ao invés de ceder aos impulsos das crianças, cabe a nós, pais e mães – sou mãe de um menino de seis anos – explicar que um coelho de verdade não é um bicho de pelúcia. É uma vida que precisa de atenção, afeto e cuidados, como você, eu, seu filho ou o meu.
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