Especialista em comportamento canino explica as consequências de punir o cachorro.
A maioria das pessoas tem certeza que os cães sabem, sim, que fizeram algo de errado. Isto porque, quando chegam em casa, seus cães os recebem não com aquela alegria, rabo abanando, pulos e lambidas, mas, sim, com o corpo abaixado, rabo entre as pernas e o famoso “olhar de culpa”. Então, ao dar uma olhada rápida no ambiente, voilá! Tapete mastigado, sofá destruído, livros rasgados. O dono, achando que o cão já sabe que aprontou, dá uma bela bronca. Mas, longe de melhorar a situação, esta só piora e o quadro de destruição aumenta a cada saída. E aí?
Vamos analisar o caso da bronca, que é a resposta comum da maioria das pessoas. O que a punição faz é “ativar” uma sequência do condicionamento clássico:
O que isso significa? Que, da próxima vez que o dono chegar em casa e todos os componentes estiverem na cena (a visão do dono e bagunça no chão), o cão mostrará o medo condicionado. É o medo que faz o cão recepcionar o dono desta maneira, e não a culpa.
A verdade é que os cães não têm senso de moral, do que é certo e errado. Certo e errado são conceitos que nós, humanos, temos, por termos sido criados em uma cultura que define estas regras. Alexandra Horowitz, autora do livro Inside of a Dog (A Cabeça do Cachorro, em português), fez um experimento com cães para determinar se eles realmente se sentem culpados. O dono mostraria um petisco ao cão, não o deixaria pegá-lo mas deixaria ao alcance do cão. Logo depois, o dono sai da sala. Quem permanece na sala: cão, petisco e uma câmera. O cão tem a chance de fazer o que é errado! Nos experimentos acontecia uma das três coisas: o cão pegava o petisco; o pesquisador dava o petisco ao cão; o pesquisador tirava o petisco da sala. Na maioria das vezes, com a volta do dono à sala, o cão aparentava se sentir culpado, tendo ou não comido o petisco! E os cães que eram repreendidos eram os que mais demonstravam os sinais de “culpado”. Ou seja: o cão associa o dono com a punição, não o ato.
Como? O cão antecipa a punição, como explicado anteriormente, pois eles associam rapidamente os eventos. Exemplo: o cão chora e ganha atenção do dono. O que ele faz para ganhar mais atenção? Chora mais ainda. Na mente do cão, destruir os objetos da casa faz com que o dono apareça, mesmo que isso demore, que é seguida da punição. A mera presença do dono é o bastante para convencer o cão de que será punido. A chegada do dono está ligada à punição, muito mais do que a bagunça na casa.
Não puna seu cão: ele não sabe o motivo de você estar tao bravo com ele (afinal, ele destruiu as coisas há muito tempo atrás). Ao invés disso, limpe a sujeira sem demonstrar irritação e, antes de sair de casa da próxima vez, passeie com seu cão, faça enriquecimento ambiental, ofereça a comida em brinquedos dispensadores de comida. Um cão que tem o que fazer física e mentalmente dificilmente apronta.
Imagem capa: drollnation
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