Capturados da natureza pra servirem à indústria do entretenimento. Essa é a realidade de, aproximadamente, 30 mil elefantes ao redor do mundo. São mantidos em cativeiro pelas mais diferentes modalidades de entretenimento: circos, shows, passeios turísticos.
Maia e Guida eram parte dessa estatística. Vieram da Ásia para o Brasil na década de 1960 e trabalharam em um circo por cerca de 40 anos. Até chegarem, finalmente, ao Santuário de Elefantes Brasil.
– In captivity, they can’t find their own space.
A frase é de Scott Blais, que eu poderia chamar de presidente do Global Sanctuary for Elephants, ou cofundador do The Elephant Sanctuary in Tennessee, ou um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Santuário de Elefantes do Brasil, ou de mais outros tantos títulos chiques que ele acumula ao longo de seus mais de 20 anos de experiência com elefantes.
Mas seria uma injustiça. Scott está além disso. Ele é daquelas pessoas que estão num estágio de evolução que a gente nem sabe se vai alcançar nesta vida.
Scott me recebeu no Santuário com carinho, paciência e regras: lá estão Maia e Guida. Não fazemos nada que chame a atenção delas. Estamos na casa delas, não na nossa.
E assim foi. Guida se aproximou por vontade própria. Veio recolher alguns galhos de palmeiras, dos quais retirava delicadamente as folhas do caule com a tromba. Pode acreditar: Guida é a delicadeza em forma de elefante.
Scott explicou que é uma forte característica dos asiáticos – diferentemente dos elefantes africanos, que são mais robustos e passionais. Maia também é asiática, mas tem uma patinha lá no outro continente. É vida louca: jogar terra na cabeça, se molhar inteira ou tomar um banho de lama é com ela mesmo.
Tempo depois, as duas me olharam por alguns minutos e seguiram pra dentro da mata, livres pra ser quem elas nasceram pra ser: elefantes.
Dez metros. Foi o mais perto que pude chegar. Até tentei dizer pro Scott “Oh my God, I’m an african elephant!”. Mas ele não caiu na minha. E eu seria uma hipócrita se dissesse que não dá vontade de sair correndo e abraçar as duas.
Entretanto, onde há respeito genuíno pelos animais, nada se trata da gente. Tudo se trata deles.
- Eles não estão lá pra abraçar você.
- Eles não estão lá pra tirar fotos com você.
- Eles não estão lá pra divertir você.
- Não é nada sobre você. É tudo sobre eles.
Quando a gente passa por uma experiência assim, vive na prática a teoria de que não há doação sem renúncia. E entender isso é o primeiro passo pra tentar arrumar a bagunça que nós, seres humanos, fizemos na vida desses animais.
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